Foca-se a pessoa doente e não a doença da pessoa, recuperando e revalorizando as relações interpessoais no processo de morrer, que é utilizado como elementos essenciais à compaixão, a empatia, a humildade e a honestidade.
Consequentemente, estes cuidados destinam-se a doentes que, cumulativamente, não têm perspetiva de tratamento curativo, com uma doença que progride rapidamente e cuja expetativa de vida é limitada, o seu sofrimento é intenso e têm problemas e necessidades de difícil resolução que exigem apoio específico, organizado e interdisciplinar. Estes cuidados não se destinam, por isso, a doentes em situação clínica aguda, em recuperação ou em convalescença ou, ainda, com incapacidades de longa duração, mesmo que se encontrem em situação de condição irreversível, apenas a pacientes com doenças terminais.
Os cuidados paliativos não são determinados pelo diagnóstico da doença, mas pela situação e pelas necessidades do doente. No entanto, doenças como o cancro, a sida e doenças neurológicas graves e rapidamente progressivas implicam frequentemente a necessidade de cuidados paliativos.
As pessoas em fim de vida podem beneficiar destes cuidados que se dirigem-se prioritariamente à fase final da vida, mas não se destinam, apenas, aos doentes agónicos. Muitos doentes necessitam de ser acompanhados durante semanas, meses ou, excepcionalmente, antes da morte.
Nas unidades de cuidados paliativos, prestam-se cuidados em regime de internamento ou domiciliário e abrangem um conjunto variado de situações, idades e doenças. São cuidados de saúde ativos, rigorosos, que combinam ciência e humanismo.
Os cuidados paliativos proporcionam aos doentes que vão morrer a possibilidade de receberem cuidados num ambiente apropriado, de forma a promover a proteção da dignidade do doente incurável na fase final da sua vida. (Portal da Saúde, Ministério da Saúde)
Relativamente, às instruções do tratamento médico, deve-se ter em conta, que estes cuidados incluem a suspensão de medicamentos que não são essenciais ao tratamento dos sintomas. Os medicamentos considerados essenciais, como por exemplo os opióides ou os ansiolíticos, devem ser administrados via oral ou na impossibilidade desta, por via subcutânea. Intervenções como colheitas de sangue, avaliação de sinais vitais e técnicas invasivas efetuadas por rotina devem ser suspensas.
Outras situações, como a incapacidade para se alimentarem e hidratarem nos estados avançados, pode provocar angústia nos familiares, nos doentes e em alguns profissionais de saúde. Embora não exista um amplo consenso sobre esta questão, estudos científicos em doentes nestas ocorrências referem que a alimentação e hidratação artificial não contribuem para a melhoria da qualidade de vida do doente, antes pelo contrário, podem contribuir para precipitar sintomas potencialmente indutivos de stress.
Com tudo isto, pode-se dizer que a filosofia dos cuidados paliativos, afirma a vida e considera a morte um processo natural e inevitável, que não se tenta prolongar nem abreviar. Considera o alívio sintomático da dor e de outros sintomas físicos essenciais, a par do apoio psicológico, social e espiritual. A família deve ser envolvida nos cuidados e as suas necessidades tidas em conta. O objetivo dos cuidados paliativos é, sobretudo, garantir a melhor qualidade para o paciente terminal e para a sua família.
FATORES INIBIDORES DO BEM ESTAR
As pessoas que se encontram num estado terminal, tentam arranjar mecanismos de defesa que se salientam ao longo desta etapa da vida delas, isto tudo, pelo facto de estas pessoas não conseguirem aceitar/acreditar que aquilo lhes possa estar mesmo acontecer.
A duração destes mecanismos vai depender de pessoa para pessoa.
1ºmecanismo: Negação
- A pessoa recusa-se a aceitar a doença, julga que é injusto e acusa outras pessoas pelo sucedido. (Esta fase não dura muito tempo)
2ºmecanismo: Agressividade e revolta
- Sentem-se revoltados e violentos para com os cuidadores e com os familiares. Isto porque, como a doença vai avançando progressivamente, a pessoa em fase terminal vai ficando cada vez mais limitada, e sobretudo quando não podem voltar a sua casa, ao seu lar de conforto, é muito revoltante para elas.
3ºmecanismo: Depressão
- Surge quando o doente toma consciência da sua doença, ou seja, é uma fase que ajuda as pessoas a conscializarem-se pelo que estão a passar.
- A pessoa sente-se perdida porque surgem as primeiras perspetivas em relação à morte.
4ºmecanismo: Resignação
- Esta fase é bastante importante, porque é quando o paciente aceita definitivamente que tem uma doença terminal. Por isso, esta etapa corresponde aos momentos de repouso e serenidade; por vezes despedem-se das pessoas com quem tem uma ligação; os cuidadores procuram melhorar a sua qualidade de vida até à sua morte (Cuidados Paliativos).
Fatores que influenciam a fase da “Resignação”
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Financeiro;
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Dificuldade em aceitar os cuidados;
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Idade da pessoa doente.
Os doentes precisam de conseguir um equilíbrio com todos estes fatores, para que possam atingir a dita “resignação” perante a doença terminal que têm.
Outros sentimentos que acompanham estas fases
Ansiedade, manifestada por:
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Vontade de ir para casa;
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Sente-se preso;
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Limitação;
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Perda das forças;
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Falta de apetite.
Baixa de auto-estima, devido aos:
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Tratamentos;
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Falta de vontade de se arranjar;
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Impacientes.
Tristeza, caracterizada por:
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O doente não comunica, torna-se reservado, isolando-se;
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Chora;
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Por vezes tenta disfarçar a tristeza perante os familiares.
Dor (Física e psicológica), em que:
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O paciente sente uma dor psicológica muito grande, que não o deixa falar e poderá tornar-se até mais agressivo;
Stress, que origina:
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A acumulação do stress dentro de si, para que os familiares não fiquem preocupados e para isso não acontecer, o cuidador como um TAS, precisa de ganhar a confiança do paciente, sem nunca obrigá-lo a isso, mas é importante que este conquiste o doente para que ele possa desabafar e confiar no seu cuidador.
TAS EM CUIDADOS PALIATIVOS
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Compreender o significado de doença que limita e ameaça a vida;
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Compreender o significado das questões físicas, psicológicas, sociais e espirituais que afetam as pessoas com condições que limitam a vida e, as suas famílias;
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Reconhecer os valores, as crenças, e a cultura dos doentes e famílias;
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Reconhecer as necessidades dos doentes e das famílias, para um cuidar integral próprio, na fase de morrer e, providenciar esse cuidado;
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Demonstrar a capacidade de apoiar ativamente o bem-estar, a qualidade de vida e a dignidade do doente;
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Antecipar complicações potenciais, que possam agravar o sofrimento e preparar um plano de cuidados responsivo;
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Oferecer excelência nos cuidados de fim-de-vida independentemente do tipo de contexto;
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Reconhecer as emoções dos doentes e apoiá-los com sensibilidade;
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Avaliar o contexto social dos doentes e família e, respetivo impacto sobre a sua experiência de receber cuidados paliativos;
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Integrar as necessidades espirituais, existenciais e religiosas dos doentes e famílias, no plano de cuidados, respeitando a sua escolha de não focar este aspeto do cuidar, se o desejarem;
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Proporcionar oportunidades para os doentes e famílias expressarem as dimensões espirituais e/ou existenciais das suas vidas, de uma forma solidária e respeitosa;
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Estar consciente dos limites que podem necessitar de ser respeitados em termos de tabus culturais, valores e escolhas;
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Promover a capacidade dos cuidadores familiares para interagir com diferentes profissionais de saúde;
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Desenvolver estratégias no seio da equipa de cuidados para gerir conflitos familiares;
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Identificar necessidades de luto complexas e referenciar quando apropriado;
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Agir no que diz respeito aos princípios bioéticos, quadros jurídicos nacionais e internacionais, valores e desejos dos doentes;
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Promover a autonomia dos doentes, em equilíbrio com outros princípios éticos;
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Incentivar o doente a expressar as suas preferências e desejos acerca do seu cuidado e tratamentos durante a trajetória da doença;
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Habilitar os doentes, famílias e cuidadores para serem parte integrante do processo de tomada de decisão;
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Estar ciente de que o cuidado ético mais apropriado pode nem sempre coincidir com os desejos e preferências dos doentes;
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Promover um trabalho de equipa interprofissional;
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Demonstrar formas de construção de uma relação terapêutica com os doentes e cuidadores familiares;
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Promover uma melhor comunicação no seio da equipa e com outros colegas de profissão;
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Escolher métodos apropriados de se relacionar e interagir, de acordo com a idade, desejos e capacidades intelectuais, verificando a compreensão das decisões tomadas;
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Interpretar apropriadamente os diferentes tipos de comunicação (por exemplo, verbal, não verbal, formal e informal) dos doentes e cuidadores familiares;
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Adaptar a linguagem às diferentes fases da doença, ser sensível às questões culturais e evitar o uso de linguagem médica;
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Apoiar as decisões informadas das pessoas, considerando o nível de informação que elas desejam receber e partilhar com a sua família;
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Envolver-se em atividades formativas ao longo da vida para manter e desenvolver as suas próprias competências profissionais;
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Exercitar o autoconhecimento, estando consciente das suas forças pessoais, fragilidades, e crenças morais e espirituais;
Por: Ângela Reis